Estágio, sim. Bicho Papão, não! – Eunice Pinheiro Sousa

Os estágios profissionais não são um bicho-papão, são necessários e recomendam-se. Bicho-papão é quem faz uso dos estágios para seu benefício, quer seja para efeito estatístico ou para controlo da espontaneidade dos jovens que a eles se candidatam.

Após o término do ciclo de estudos, os jovens têm a oportunidade de dar início à sua carreira profissional, conjugando a oportunidade de aplicar na prática os conteúdos e conhecimentos aprendidos e trabalhados ao longo do percurso académico à aprendizagem contínua e supervisionada conseguida em contexto de estágio. Esta primeira abordagem profissional, se conseguida com sucesso, é muito importante para a eficaz e sustentável inserção dos jovens no mercado laboral, atendendo à experiência que podem ganhar e às ferramentas que melhor os preparam para os próximos desafios.

Mas, infelizmente, existe o Bicho-papão.

O Bicho-papão é especialista em meter a patuda em tudo e sempre que o faz a única coisa que cresce é a sua própria barrigona. Assim foi com os estágios. O que podia e devia resultar numa porta aberta para a criação de oportunidades, tem resultado numa porta de entrada para o sistema digestivo do Bicho-papão, onde a sustentabilidade futura não importa porque a satisfação momentânea é muito mais urgente.

São muitos os relatos de jovens que em ambiente de estágio dizem não desenvolver tarefas para as quais estão habilitados, muitas vezes fazendo o que mais ninguém quer fazer. Nestes casos, a aprendizagem e experiência são nulas, mas a remuneração no final do mês faz com que sejam muitos os jovens que aceitam condições diferentes das constantes no contrato de estágio que assinaram.

À necessidade de formação e informação sobre os deveres que as entidades que recebem estagiários devem cumprir, o Bicho-papão assobia para o lado. Afinal são muitos os seus familiares que não cumprem as regras e aos negócios de família querem-se os problemas bem longe. À necessidade de fiscalização, também não. Dá muito trabalho e descobrem-se coisas (que se calhar já se sabem) que não convêm.

Não foi isto que vos foi prometido, não é isto que merecem, não foi para isto que estudaram, não é assim que vão poder preparar o vosso futuro, não é desta forma que contribuirão para o lugar que vos viu nascer e crescer!

É possível denunciar. Se as condições do vosso estágio são abusivas, diferentes do que aceitaram na vossa candidatura, denunciem. Denunciem pela melhoria do vosso futuro e do futuro daqueles que se candidatarão.

No Parlamento Europeu, a Eurodeputada Sofia Ribeiro, aquando da aprovação do Relatório que discute a execução da Estratégia da União Europeia para a Juventude, na Comissão do Emprego e Assuntos Sociais, entre outras propostas que contaram com a colaboração da JSD/Açores, defendeu a necessidade de uma plataforma de denúncias. Este é o caminho para dar voz aos jovens, para que não se resignem e lutem sempre pelos seus direitos. Um estágio é uma oportunidade para maximizarem as vossas capacidades, não aceitem ser reduzidos a um mero número.

Quando todos deixarem de alimentar o Bicho-papão, ele perderá a sua força.

Eunice Pinheiro Sousa é Secretária Geral da JSD/Açores desde 2017 e Conselheira Nacional da JSD