Quebro a minha periodicidade de escrita no Energia Laranja, para me debruçar sobre a “peça humorística” de um jornal, com considerações discriminatórias para com 4391 Graciosenses, afirmando, entre outras coisas, que o investimento na nova aerogare da ilha era para passageiros de “tratamento de burros, que se dão tão bem naquela simpática ilha”.
Não tenho grandes problemas em reconhecer a singularidade do burro anão da Graciosa, que efetivamente se dá muito bem naquele pequeno pedaço de terra, plantado a norte do arquipélago, ao qual tenho o, enorme, orgulho de chamar casa. Mas parece-me que a intenção do autor, de tamanha desconsideração, não seria essa.
Na realidade, o autor acha que investir 3,8 milhões de euros na nova aerogare, para servir tão reduzido número de população (diz o próprio que “tem menos habitantes que o Nordeste” – o que traduz também o que o autor pensa deste concelho Micaelense) é um absurdo, desprovido de qualquer “retorno”. Está no seu direito.
Para quem, como eu, nasceu e cresceu num arquipélago, e não em três distritos, com a mesma bandeira e o mesmo hino, estes surtos ocasionais de ideias e guerras adormecidas entre ilhas são um disparate, que tem consumido, durante demasiado tempo, as nossas energias coletivas.
Nenhum conterrâneo Graciosense tem menos direito a aspirar o melhor para a sua ilha por causa da sua dimensão ou população. Como nenhum Corvino tem menos direito a ver reconhecida a sua tenacidade e força, tantas vezes esquecida. Ou o direito do Micaelense a lembrar a sua importância económica para a região.
E poderia continuar…
Somos nove parcelas de território, que ainda hoje, aparentemente, não compõe uma região. Em vez de encontrarmos forças nestas nossas diferenças, preferimos alimentar guerras, ainda que legitimas em democracia, que nos dividem e cegam dos verdadeiros objectivos: criar um futuro para os Açorianos. Garantir que nenhuma parcela, daqui por muitos anos, correrá o risco de ficar deserta.
Luís Pereira é vice-presidente da JSD/Açores desde 2015