Quando se afirma, na maioria dos casos de forma leviana, que todos os partidos são iguais, que pensam de forma igual, que fazem o mesmo, perpetua-se a ideia de que todos os Açorianos são iguais: querem poder e dinheiro e o resto é conversa.
Mas na realidade, existem diferenças subjacentes à nossa actuação enquanto indivíduos, e não actores políticos, que nos separam. Algumas delas bastante presentes no nosso dia-a-dia.
Os partidos políticos, como reflexo destas diferenças entre todos nós, enquanto indivíduos, são eles próprios diferentes entre si. Tem existido, historicamente, uma diferença notória sobre o papel atribuído à iniciativa privada na nossa vida enquanto sociedade.
Uns consideram a iniciativa privada como um ataque às funções que, acham eles, o estado tem de ter. É uma desresponsabilização do governo. Para alguns o estado deve ser uma entidade colossal que se mete em tudo, controlando tudo, de maneira a que todos sejam iguais.
Outros consideram que o estado deve ser minimalista, respondendo apenas naquilo que sociedade não consiga, por ela própria, responder. Defendem uma organização social e económica baseada no auto-controlo do binómio oferta-procura.
Apesar de me encontrar, em termos ideológicos, no meio destas duas realidades, reflito frequentemente sobre o papel do estado, enquanto fiscalizador, da iniciativa privada.
Só com muita lata (perdoem-me a utilização da expressão popular) é que o estado consegue chegar ao pé de um privado e exigir-lhe que cumpre com a lei, quando ele próprio é o primeiro a estar em incumprimento.
A lei, para privados e públicos, tem de ser igual. Infelizmente o público não tem vontade, ou possibilidade, de se fiscalizar a si próprio.
Tudo isto, com consequências directas na qualidade do sector público. É verdade que para cumprir grande parte das leis, vedadas ao sector público, é necessário mais investimento (em recursos humanos, em estruturas) mas não podemos ter duas medidas.
Ou o estado cumpre ele próprio a lei, ou não pode ter a lata de a impor aos privados.
Luís Pereira é vice-presidente da JSD/Açores desde 2015