É difícil encontrar alguém que, quando questionada sobre qual o desafio das “ilhas de coesão” (denominação que eu, pessoalmente, abomino) não identifique à partida o êxodo populacional, que alguns classificam de desertificação humana, como o desafio mais premente ao futuro destas nossas ilhas.
Sendo eu um Graciosense, nascido e criado nessa ilha que é a segunda mais pequena do arquipélago, vi (apenas no meu pequeno tempo de vida) uma ilha com mais de 5000 habitantes transformar-se numa terra que, em população fixa, está a rondar os 4000 habitantes (apesar dos últimos censos populacionais atribuirem à Graciosa uma população de 4391 habitantes).
Ora, resolver o problema da desertificação humana não passa por o tratarmos com medidas políticas diretas, pois a única forma que o poderíamos fazer, era, em algum sonho, conseguir aprovar uma lei que obrigasse os filhos da terra a voltar, independentemente das condições desse regresso. Não só isto é irrealista, como é absurdo.
A única via possível para atrasar ou estagnar a saída de população destas nossas ilhas é atuarmos nos problemas a montante no rio, ou seja, nas causas da saída dos jovens: na falta de dinâmica económica, que por sua vez, provoca a falta de oportunidades profissionais que, por sua vez, provoca uma incapacidade dos jovens em progredirem com a constituição das suas famílias e da sua vida autónoma fora das asas protetoras dos pais ou da família.
Mas qual é o problema? Dito desta forma parece fácil, mas não é.
A própria escala reduzida das nossas ilhas mais pequenas dificulta esta dinâmica económica, senão vejamos o exemplo de um produtor agrícola: é mais seguro economicamente produzir alfaces para uma ilha com maior população do que uma exploração na Graciosa que das duas uma: ou consegue enviar as alfaces para fora da ilha (coisa difícil hoje em dia) ou limita-se a produzir para os mais ou menos 4000 habitantes da ilha.
Os transportes não ajudam atendendo a que o transporte marítimo tem condicionalismo próprios que inviabilizam o comércio de determinados produtos, facilmente perecíveis, e o transporte aéreo é uma dor de cabeça tal que é mais fácil desistir do que andar à “pancada” diariamente com a SATA.
Existe apenas um empreendorismo que poderá resultar em ilhas pequenas: serviços de informação e tecnologia. São dos poucos, para não dizer dos únicos, que não têm um produto físico que necessite de ser transportado e portanto, não está sujeito a todos os condicionalismos (quer de transporte quer de reduzida dimensão populacional).
O turismo, o salvador de todos os males dos Açores, também não chega às ilhas mais pequenas. É verdade que tem sido promotor do renascimento de sectores de actividade nos Açores, mas esse renascimento custa a chegar, por exemplo, à Graciosa, não fosse tão difícil viajar para esta “ilha fora de mão”.
Poderão agora dizer: mas que cenário negro que está aqui pintado. É verdade que a realidade pode assustar e se fosse fácil, até os sucessivos governos socialistas teriam tido oportunidade de a resolver.
Mais do que enterrar dinheiro, as câmaras municipais desempenham um papel fundamental na identificação dos caminhos a serem trilhados, mesmo que por outros. Existe potencialidades, por explorar (às vezes por inércia) em cada uma das ilhas. Ou as sabemos identificar, e com elas dinamizarmos todas as ilhas, ou deixamos parcelas dos Açores transformarem-se em ilhéus.
(Artigo de Opinião no âmbito da campanha Operação Autárquicas da JSD Açores)