Foi a Universidade de Verão da JSD, em São Jorge, que lançou a primeira pedra. Depois de ter sido aluna da segunda edição da escola Social-democrata, Leonor Batista foi contactada pelo então Secretário-Geral, Flávio Soares, para reativar a estrutura da JSD na ilha de Santa Maria, há um ano inativa. “Ainda me lembro como ele ficou surpreendido de [nessa altura] ainda não ser militante e foi pelo incentivo dele que me inscrevi”, contou-nos.
“Sinto que sou de uma geração que cresceu em liberdade, mas age como se vivesse aprisionada, com medo de se expor e assumir que simpatiza ou segue determinada ideologia politica”. E foi por esse pensamento que se fez militante, acabando, quase ao mesmo tempo, por integrar a lista para as eleições legislativas, indo em quarto lugar pelo círculo de Santa Maria. Tinha 24 anos.
Sinto que sou de uma geração que cresceu em liberdade, mas age como se vivesse aprisionada e com medo de se expor
Desde o final de 2016 que é presidente da estrutura da JSD em Santa Maria e há pouco tempo receberam a primeira visita oficial do Presidente da JSD Açores. A equipa delineou um programa de três dias que incluía uma conversa com jovens, uma tertúlia política, um trilho pela ilha, um jantar com militantes e diversos encontros com a Comunicação Social local.
A JSD de Santa Maria tem ainda desenvolvido ações de formação relacionadas com primeiros socorros e suporte básico de vida que tem possibilitado “abrir a sede da JSD à comunidade”.
A somar a isto, desde o dia 1 de outubro que a Leonor é vereadora da Câmara Municipal de Vila do Porto, em Santa Maria. Responsável pelas pastas da Cultura, Juventude, Participação e Cidadania, e Comunicação e Imagem, Leonor afirma que “todos os dias são diferentes” e o foco varia de acordo com as prioridades da autarquia.
A implementação do orçamento participativo é, até à data, o grande destaque. Quando chegou à Câmara, o projeto já estava implementado, mas conseguiu ter o prazer de acompanhar a fase de seleção e votação das propostas. E vamos a números: a Câmara dedicou 15 mil euros para projetos com a juventude, sendo que o Orçamento Participativo dos Açores, aquele que é estipulado e manuseado pelo Governo Regional, concedeu apenas 6 mil e seiscentos euros para a área da Juventude em Santa Maria.
Torna-se difícil conseguir o que quer que seja quando é algo contrário ao pensamento político dominante
No entanto, a Leonor disse-nos que não é por terem agora uma vereadora jovem que a Câmara Municipal de Vila do Porto se preocupa mais em resolver os problemas dos jovens marienses. Mas também nos disse que não é pelo facto de ser uma câmara laranja que facilita o recrutamento de novos militantes. “Torna-se difícil estar numa Câmara ou Junta de Freguesia cuja cor não é igual à do Governo Regional, pese embora algumas opiniões contrárias”. Arranjar novos militantes é difícil, e chegam mesmo a ouvir “que o medo das represálias é maior do que a vontade de assumir a ideologia Social-democrata”. “Torna-se difícil conseguir o que quer que seja quando é algo contrário ao pensamento político dominante”, desabafou Leonor.
Recentemente, foi mandatária regional da Margarida Balseiro Lopes, aquela que é, agora, a primeira mulher a liderar a Juventude Social-democrata.
A Leonor pertence à geração millennials, a que alimentava dinossauros em tamagochis, eleita como a geração mais qualificada de sempre, e ainda assim, segundo alguns, a menos preparada.
“Sinto que chegámos a um ponto de rutura” em que esta geração “tem muitos conhecimentos e realmente pode fazer a diferença no desenvolvimento da sociedade”. Mas, “é importante termos algum bom senso nesta questão”, explicou-nos. “A preparação não vem do ar”. “É preciso que sejam dadas oportunidades para os jovens ganharem experiência profissional” e assim, de facto, serem preparados. “A inexperiência passa por todos, quer seja num jovem de 21 anos que está a iniciar uma carreira, como num adulto de 50 anos que decide mudar de setor de atividade”.
Talvez, diz a Leonor, não tenha sido feita “uma transição equilibrada” entre a geração que ainda não conseguiu uma oportunidade no mercado de trabalho e aquela que, a escassos anos de terminar as suas carreiras, detém experiência a nível profissional. É por isso mesmo que acredita que a sua geração seja facilmente descredibilizada. Por não ter sido dada oportunidade, é uma geração que ainda não pode mostrar aquilo de que é capaz.
Vejo uma família que no meio das diferenças todos os seus elementos lutam lado a lado pelo bem comum da região e dos jovens
Para além do ‘desafio’ que é ser ‘jovem na política’, Leonor pertence à minoria das ‘mulheres na política’ – minoria essa que, segundo ela, é facilmente explicável por questões históricas. Na lógica de divisão de papéis entre os géneros, “cabia às mulheres a esfera privada (o serviço doméstico, o cuidado das crianças e dos idosos) e aos homens a esfera pública”. As mulheres ainda têm um papel muito importante na gestão doméstica que, somado à mais recente necessidade de assumirem uma carreira profissional, acaba por ser não só “uma sobrecarga”, como até “uma indisponibilidade para outro tipo de atividades, como a política”.
Mas não é por isso que deixa de ver um futuro saudável para a Região, para o PSD e para a JSD Açores. Leonor vê “jovens brilhantes, competentes e interessados pela região e pelo país”. São jovens que na JSD “não têm medo de assumir e dar a cara por aquilo que acreditam”.
“Vejo uma família que no meio das diferenças todos os seus elementos lutam lado a lado pelo bem comum da região e dos jovens”. “É um orgulho fazer parte desta estrutura!”, finalizou Leonor.
Espaço de entrevista coordenado por Ana Cláudia Veríssimo