Por estas ilhas fora, começando no Domingo de Pentecostes, não há freguesia que não comemore com fervor e devoção as Festas movidas pela fé em louvor do Divino Espírito Santo.
Num passado recente, as Festas em honra do Divino Espírito Santo marcaram a agenda política regional quando foram reunidas 1500 subscrições que compuseram o Projeto de Decreto Legislativo Regional n.º 27A/X – Regime Jurídico de Apoio ao Mordomo, Comissão das Festas, Império e Irmandade na preparação e realização das Festas Tradicionais e Populares do Culto do Espírito Santo. Em posição contrária à do Secretário Regional da Educação e Cultura, não hesitaria em juntar a minha assinatura às 1500 recolhidas discordando do Senhor Secretário por conhecer a envolvência das Festas e saber o quanto é trabalhoso atender aos trâmites necessários para que a sua preparação possa decorrer dentro das formalidades legais a que são impostas.
A espontaneidade, a devoção, o culto permaneceram fortalecidas com o passar de décadas. As Festas em honra do Divino Espirito Santo são um elo entre estas nove ilhas, marcadas de singularidade especial que a todos abraça com a mesma intensidade, independentemente da diversidade que as distingue ou até a diferença de zona para zona numa mesma ilha.
Mas os tempos mudaram. A expressão do culto adaptou-se à mudança do tempo. As recordações carinhosamente guardadas não correspondem com aquilo que, agora, acontece.
A mobilização das gentes, a dedicação e entrega, o espírito de trabalho em equipa, continuam presentes. Este ajuntamento já não resulta mais apenas no terço rezado, de promessas cumpridas, das dádivas ofertadas, no colocar das bandeiras no arraial, no iluminar das ruas, do picar da verdura e dos cedros, na abertura do bazar e do quarto da coroa, no benzer das carnes e da sua distribuição pelo povo, com massa sovada e vinho.
A isto juntaram-se outras tarefas impostas, se bem que necessárias em alguns casos, para manter a segurança e organização que dão à preparação das Festas uma complexidade muito maior.
Dando o exemplo da preparação de uma Festa que se prolongue por cinco dias, sem grande investimento em entretenimento. Foram precisos cerca de dois mil euros para que, à data do seu início, estivesse tudo em conformidade com as exigências pedidas. São seguros, licenças camarárias (de ruído e recinto, pirotécnica), licença da Sociedade Portuguesa de Autores, licença Pass Music, Bombeiros, PSP, Matadouro, EDA, e por aí adiante.
O reconhecimento da necessidade de apoio à concretização destas Festas, não seria deturpar nem desvirtuar a sua organização, seria entender que são demasiado pesados os encargos financeiros que as precedem, quando, e acima de tudo, estas não têm o propósito do lucro, mas sim o de manter viva para o futuro esta tradição secular intimamente ligada à nossa condição de ilhéus. O fulgor, todavia, não esmoreceu em virtude da decisão tomada pelos responsáveis políticos socialistas, será sempre mantida a vontade popular de expressar a sua devoção, manifesta na irmandade que aproxima, na alegria do arraial corriqueiro, nas lágrimas contidas.
Não politizar esta questão, portanto. Então, reconhecer o esforço e apoiar a nossa cultura incorreria o risco de ser uma politização? Deve ser resultado do habitué dos nossos governantes regionais, “politizar”, ou apoiar generosamente, o que compensa em ganhos político-partidários.
Mas vendo bem, este contra não é tão fatal como os pró, que se têm vindo fazer acompanhar dos in… sucesso, im… competência, irresponsabilidade.
O meu papel nestas lides terminou. Poderão vir outros em que as minhas mãos manter-se-ão despojadas, laçadas a tantas outras que se unem nos esforços de preservar intacta a nossa identidade açoriana, a que muitos outros atentam e destroem, silenciando a voz de quem ousa inquirir ou reivindicar.
As gentes farão as Festas, e Nosso Senhor os ajude.
Eunice Pinheiro Sousa é Secretária Geral da JSD/Açores desde 2017