Ao longo da história dos Açores (contam-me aqueles que a viveram na primeira pessoa) existiram ataques cíclicos às autonomias regionais dos Açores e da Madeira. Alguns desses ataques vieram do PSD, outros dos nossos adversários políticos. Mas a realidade, é que eles sempre existiram.
Numa altura em que a autonomia regional estava ainda em amadurecimento nas mentes de todos os Portugueses – e, naturalmente, da classe política que se formou no pós-25 de abril – foi preciso as instituições autonómicas, lideradas por João Bosco Mota Amaral, darem uns quantos murros na mesa para sossegar ímpetos menos respeitosos da nossa recente constituição.
No pós-25 de Abril, foi reconhecido o justo e proporcional sentimento coletivo dos Açorianos e Madeirenses pela necessidade da sua auto-determinação. Nasceu um regime político que, reconhecendo as diferenças para o todo nacional, ajudou, ao longo das últimas décadas, a colmatar as fragilidades e a enfrentar os desafios. Isto dito por um jovem que já nasceu nuns Açores autónomos…
O regime autonómico não é perfeito ou infalível, mas parece-me que responde, da melhor maneira possível, às necessidades específicas de ambos os arquipélagos. Este entendimento, com mais fervorosos adeptos do que outros, tem sido um pilar do desenvolvimento de Portugal. Tem sido o reconhecimento de que os Açores, pela sua dimensão e posicionamento, dão mais ao todo nacional do que lhe exigem.
As próprias instituições Europeias reconhecem a especificidade de regiões como os Açores, quando reservam no seu seio, uma figura jurídica, no plano Europeu, para as Regiões Ultraperiféricas. A União Europeia considera que estas regiões são mais frágeis, e expostas a fenómenos sociais e económicos adversos, do que o resto dos constituintes desta nossa união.
A organização do Partido Social Democrata também não é diferente, pois reconhece autonomia estatutária às regionais dos Açores e Madeira, para determinarem a sua organização interna, o seu funcionamento e as suas decisões. Existe um congresso regional, um líder regional e deputados regionais. Em ambas as regiões, a prioridade deve ser as ilhas e os povos insulares que representam.
Ora, é neste quadro, que analiso a mais recente afronta à autonomia dos Açores (e de resto, à da Madeira, mas de forma mais encapotada).
Pela primeira vez desde que o primeiro Português se sentou em Estrasburgo e Bruxelas, não existirá nenhum Açoriano Social Democrata no Parlamento Europeu. Este fenómeno já se passou em outros partidos, mas o PSD, pai das autonomias regionais, tinha sempre resistido a este raciocínio tático e eleitoralista.
Ao longo do nosso passado, reconhecendo a necessidade de uma voz específica para os desafios Açorianos na União Europeia (como é o caso da defesa dos nossos interesses nos dois sectores económicos mais importantes para o arquipélago – Agricultura e Pescas), todos os líderes do PSD aceitaram proporcionar a estas nove ilhas, plantadas no meio do atlântico, um interlocutor directo no centro de co-decisão Europeu.
Todos esses ex-líderes nacionais reconheceram que Portugal, e a Europa, vai até à Fajã Grande, na ilha das Flores. Que essa enorme dispersão geográfica no oceano é uma fonte de riqueza para o país e para a Europa, e que os Açores não podem ser representados pela Madeira (nem vice-versa).
Mas esse entendimento, chegou ao fim, pela mão do atual líder do PSD. Junta-se à lista de antigos e atuais políticos que rosnam às autonomias regionais.
O homem que berrava a plenos pulmões contra o centralismo de Lisboa, rendeu-se rapidamente a ele.
Que saudades tenho daquele que colocou o interesse do país à frente dos seus interesses pessoais, e ainda assim ganhou eleições.
Portugal já esteve primeiro, mas agora a prioridade é outra.