Aos 16 ou 18, existe mais com que nos preocuparmos – Luís Pereira

O consumo de álcool está ligado à própria história do Homem, quando ele se apercebe que determinadas plantas lhe permitiam atingir um estado de euforia ou pouca lucidez que era “agradável”.

Já nos tempos modernos, para olharmos para o consumo de álcool por jovens, implica fazermos uma análise fisiológica do comportamento desta substância dentro do corpo humano, pois a sua metabolização está dependente da capacidade hepática do corpo. Este é um processo que corpos mais jovens tem menos possibilidade de realizar que corpos adultos, logo, as consequência físicas do seu consumo em excesso são maiores em jovens.

Implica, portanto, um olhar diferenciado para o seu consumo em idades mais precoces. É, de resto, esta lógica que está na base da definição de uma idade mínima para o consumo de álcool.

Na mesma semana em que é aprovada na Assembleia Legislativa Regional a subida da idade mínima para consumo de bebidas alcoólicas para 18 anos, em vez dos atuais 16, sabe-se também que mais de 1200 jovens foram assistidos pelo INEM, no continente Português, por intoxicações alcoólicas. São mais de três casos por dia, fora os que não contam para a estatística.

Era anedótico que, numa região, com altas taxas de consumo de álcool a idade mínima continuasse a ser de 16 anos. Esta é uma problemática que deve ser encarada como um problema de saúde pública, pois além de fazerem falta ações direccionadas em concreto à substância aditiva álcool, também fazem falta ações direccionadas a outras substâncias e patologias do foro da saúde mental.

A medida regional, que peca por tardia, foi anunciada como estando integrada num maior pacote de combate aos consumos alcoólicos pelo Governo Regional dos Açores. Se assim for, parabéns ao titular da pasta da saúde regional. Se assim for…

No entanto, e mesmo acreditando que esta alteração à lei não é mais uma medida isolada para as manchetes dos jornais, uma outra intervenção é necessária: enquanto sociedade o consumo de álcool, como de resto noutros comportamentos aditivos ou violentos, têm de deixar de ser encarados como toleráveis.

A verdade é que nos Açores, de uma forma geral, a embriaguez é tolerada, quer em adultos quer em jovens. Não existe, como noutros países, a pressão social que disincentive o seu consumo. Mas esta modificação não pode ser feita por via legislativa, mas sim por uma alteração ao posicionamento social sobre esta problemática.

Convém, no entanto, esclarecer para não me interpretarem mal: não se pretende que cada um de nós seja polícia do comportamento dos outros, deixemos isso para as autoridades. Todos somos jovens, e todos passamos por momentos em que o convívio leva consigo ao exagero, no entanto, o disincentivo social permite que essa frequência possa diminuir. Essa, aliás, é a consequência da implementação de medidas sociais em alguns estados norte-americanos.

Se bem que aplaudo a aprovação da subida de idade mínima para o consumo de álcool, existe mais trabalho que, enquanto sociedade, não podemos deixar de fazer. Mas temos de arrepiar caminho…

É necessário mais controlo sobre a venda/disponibilização de bebidas alcoólicas a menores de idade, um olhar diferente, enquanto sociedade, para o seu consumo, além da necessidade dos governantes regionais assumirem como seu designo a convocação de todos os técnicos para a definição de um Plano Regional de Saúde Mental, que consiga por cobro às elevadas taxas de suicido na região, em alguns casos associadas a comportamentos aditivos.

Luís Pereira é vice-presidente da JSD/Açores desde 2015