Dinâmica e Mobilidade – André Soares

Aproximamo-nos do final do verão, saindo assim da época de maior dinâmica e mobilidade das nossas ilhas, potenciado pela atual afluência de turismo. Para nós açorianos ou para quem têm negócios, consegue avaliar com muita facilidade quer o seu lado positivo, quer o seu lado negativo. Sabemos também que o que não faltam são artigos, dados, opiniões e mais escritos sobre o turismo e as suas consequências. No entanto, não estaríamos a fazer bem o nosso papel se deixássemos passar esta oportunidade. O papel das entidades governamentais é o de regular aquilo que necessita de ser regulado. Entendamos ainda que o seu papel deve ser exatamente ode proporcionar as condições para que consigamos capitalizar toda esta movimentação.

Mesmo sendo o turismo neste momento uma importante fonte de receitas, não nos podemos esquecer que nós não queremos ser ilhas de verão. Nós queremos sim ter dinâmica e mobilidade o ano inteiro, para atrair e fixar população. Queremos que as pessoas considerem ficar nas suas ilhas ou mesmo atrair pessoas de outras regiões. Queremos que exista a hipótese de um açorianonão ser obrigado a sair da sua ilha se não quiser, a ter um futuro cá. No atual modelo em que nos inserimos, não existe muita hipótese. Saímos e muitas vezes não podemos voltar. Cabe à juventude continuar a apresentar propostas para combater esta desertificação e defender os interesses dos nossos jovens.

Precisamos de mobilidade. Precisamos de transportes que sirvam as necessidades dos açorianos. Se continuamos a falar dos transportes, é porque existem ainda grandes lacunas. Imaginemos se realmente existissem meios de transporte à altura da procura que temos. E não estamos a falar em apenas aumento, é preciso uma compreensão das dinâmicas entre ilhas e continente para que se dê uma resposta adequada. E esses dados já existem e estão na posse de quem toma essas decisões. No entanto, amovimentação de pessoas, viaturas e mercadorias fica ainda muito aquém. Para uma realidade insular, exigimos uma resposta à altura. Não existe nenhum plano de transportes açoriano. Para que tal existisse, deveria sempre integrar todos os meios de transporte existentes. Numa economia tão frágil como a nossa, nunca podem ser as entidades governamentais a asfixiar a iniciativa privada; o seu papel é o de regular e integrar. Não podemos esperar meses por carga, ficar em trânsito durante dias e não conseguir circular em segurança dentro da nossa própria ilha. Não há justificação.

Precisamos de dinâmica. Precisamos que surjam postos de trabalho indicados à procura existente no nosso mercado. A própria orientação na formação dos jovens deve ser feita de modo a que consigam proporcionar um emprego mais estável. Emprego e trabalho nas áreas que mais carecem na nossa região. E nunca, mas nunca podemos continuar a perpetuar a ocupação e a criação temporária de trabalho. Estas medidas não resolvem oproblema, incentivam a precaridade e os seus números podem ser usados para dissimular o real problema do desemprego. Não podemos ter pessoas “ocupadas”. Temos de ter pessoas devidamente integradas na sociedade. Este tipo de dependência tem de ter um fim e dar lugar a algo mais sustentável e duradouro. Para completar, temos também de falar de habitação. Sem melhores condições para que as pessoas tenham a sua própria habitação e facilidades de arrendamento, não conseguimos exigir aos jovens a sua total emancipação. Há que haver uma estratégia, uma estratégia que englobe estes parâmetros, e outros igualmente importantes como a saúde. Infelizmente, aquilo que mais se assiste é a uma falta de estratégia. Concluindo, quando temos uma população com casa e trabalho, podemos assistir de uma forma natural ao aparecimento de todos os outros serviços que constituem o real desenvolvimento de uma cidade, concelho ou freguesia. Esta é a dinâmica que precisamos criar.

Estes anseios e preocupações continuam a existir e não se avizinha um desfecho num futuro próximo. Sem uma dinâmica e mobilidade como aquela que existe na época alta durante a época baixa, os Açores irão continuar a ser apenas e só um destino de verão. Fechamos assim a porta à população que gosta de cá estar e que iria permitir o desenvolvimento regional. E nós não queremos fechar portas durante o inverno. Estamos cá porque somos os Açores, durante todo o ano.


André Soares é vice-presidente da JSD/Açores desde 2017.