#ÉDAJOTA: Margarida Balseiro Lopes

Tem a agenda mais preenchida que o Obama em semanas gloriosas. Já deu entrevistas a quase todos os jornais portugueses, mas nós temos exclusivos − até a receita da quiche que apimentou o Congresso que a elegeu. Ela contou-nos tudo e atribui medalhas aos deputados açorianos na república. É a presidente da JSD. Margarida Balseiro Lopes.

O destino queria traçar-lhe uma posição à esquerda na política. Margarida Balseiro Lopes nasceu na Marinha Grande, numa família maioritariamente socialista, mas aos 15 anos, depois de um aceso debate numa aula de Francês com uma colega da Juventude Comunista Portuguesa, foi inscrever-se na JSD. Treze anos depois de ter assinado a ficha de militante, foi eleita presidente da Juventude Social Democrata − a primeira mulher a exercer o cargo.

As mulheres ainda representam menos de um terço de quem se senta nos parlamentos nacionais da União Europeia. Por cá, o nosso país aprovou em 2006 uma quota de 33,3% em todas as listas, uma medida “ainda necessária” para a Presidente da JSD, que é também a deputada mais jovem da bancada Social-democrata, na Assembleia da República. Embora queira que este seja apenas um instrumento provisório, “para já, [o regime de quotas] é a forma de garantir que mais mulheres têm oportunidades de mostrar que são capazes”.

Nunca em 40 anos de existência da JSD tinha sequer uma candidata a querer assumir a liderança. Mas não só neste ponto Margarida quer deixar um marco − quer que olhem para a JSD “e saibam que os políticos não são todos iguais”; quer que “oiçam” a JSD e “que se identifiquem com a forma de estar e de fazer política” da Juventude Social-democrata. “Nós conseguirmos fazer a diferença. Este é um trabalho diário e muito ambicioso, mas é esse o meu compromisso e a minha missão”.

Pouco depois de ser eleita presidente da JSD, Margarida Balseiro Lopes foi escolhida para realizar a intervenção, pelo grupo parlamentar do PSD, na sessão evocativa do 25 de abril

Geração para-sempre-na-casa-da-mãe

Mas esta pode ser uma missão condenada a apresentar resultados em apenas dois anos.Margarida já garantiu que fará apenas um mandato como presidente, o tempo suficiente para “fazer a transformação” que quer ver feita na JSD: vê-la “mais forte, mais mobilizada e incontornável na vida dos jovens portugueses”. Até lá, a geração para-sempre-na-casa-da-mãe ou não-ganho-mais-de-600 desconto-para-não-ter-reforma é um dos grandes desafios que já assumiu querer dar resposta.

A sua geração abria o pacote de batatas fritas à procura do tazo enquanto guardava o trabalho da escola numa disquete. Uma geração analisada por muitos como a mais qualificada de sempre, mas também a menos preparada e mais desligada da política. Há quem esteja a criar aplicações para smartphones para incentivar a participação cívica dos jovens e tornar a política mais apetecível para uma geração sem paciência para formalismos. “A política envelheceu e está com uma crise de meia-idade”, alertou Margarida, reforçando que as juventudes partidárias têm a missão de a rejuvenescer. “Mas isso não passa apenas por trazer gente nova; temos de trazer uma nova forma de estar e de fazer política; temos de credibilizar a política, incluindo as juventudes partidárias.”

 

 Legalização da eutanásia, prostituição e drogas leves

Uma das grandes conquistas da Juventude Social Democrata, e que constitui um fator inédito para esta credibilidade que Margarida quer garantir, foi ver o PSD a mudar, por incentivo e recomendação da JSD, os estatutos do Partido para expulsar militantes condenados por corrupção.

Por esta altura, em cima da mesa, estão as matérias de consciência. No último dia 29 de maio, o parlamento nacional rejeitou as quatro propostas de despenalização da eutanásia. O PSD deu liberdade de voto aos deputados da bancada, uma postura que, segundo Margarida, ”respeita a história do partido” e “permite que cada deputado vote de acordo com a sua consciência”. A da Margarida mandou-a votar a favor.

A comunicação social não deixou escapar o seu voto igual à esquerda do plenário, muito menos o abraço à deputada socialista Isabel Moreira, uma das subscritoras da petição que deu início à discussão da eutanásia. Mas não deixam de, ao mesmo tempo, apelidarem-na de Passista, fazendo referência à ala mais à direita do partido − algo que não a incomoda. “Eu não sou de esquerda”, garantiu.

À semelhança, Margarida é também a favor da legalização da prostituição e a legalização das drogas leves, quer para fins recreativos, quer para fins medicinais e até ao final do ano, quer promover um referendo sobre a legalização das “drogas leves”, porque “a opinião da Margarida não tem de ser a posição da JSD”, afirmou.

 

Há ofertas para Berta Cabral, Antonio Ventura e Flávio Soares

Na primeira reunião que a JSD teve com o Presidente da República e com o Presidente do PSD, Margarida ofereceu presentes simbólicos a ambos. Uma prancha de Bodyboard para Marcelo ‘apanhar a onda’, voltando a candidatar-se e um carro telecomandado a Rui Rio para que seja ele a conduzir os destinos do país, nas próximas eleições.

A Energia Laranja desafiou a Margarida para, imbuída no mesmo espírito generoso, escolher possíveis ofertas para dar aos colegas de bancada açorianos, no Parlamento Nacional e ao presidente da JSD Açores. Aos deputados Berta Cabral e António Ventura, “oferecia uma medalha por aturarem o Carlos César no Parlamento”.

Mas foi o açúcar em ponto dos doces açorianos que ditaram a prenda a Flávio Soares. “Oferecia um pacote de várias viagens ao continente para me poder mais vezes trazer queijadas da Graciosa”, confessou.

 

“Sabem o que é uma quiche?”

O momento alto do 25º. Congresso, aquele que consagrou Margarida como presidente, foi a quiche da mãe. A noite de 14 de abril estava animada e os trabalhos planeavam arrastar-se até de manhã. Continuamente chegavam militantes acima do palco a manifestar apoio a um dos dois candidatos.

“Sabem o que é uma quiche?”, começou por perguntar um deles, apontando para outro militante: “almoçaste comigo uma quiche na casa dos pais da Margarida para a apoiar e agora vens aqui dizer que a Margarida não tem qualidade?”.

Os olhos de uns arregalavam-se de espanto; outros punham mãos à cabeça. Apenas o busto de Francisco Sá Carneiro, sempre presente nestas reuniões Sociais-democratas, mantinha-se inerte.

Margarida Balseiro Lopes durante o XXV Congresso Nacional da JSD

Apesar de ter sido o soundbite do dia seguinte, incrivelmente ou não, ninguém se lembrou de pedir a receita. A Energia Laranja pediu. A presidente deu. E nós, supra-sumo da generosidade, publicamos. Aqueçam o fogão a 180 graus − a receita está na caixa ao lado.

TARTE DE ATUM

Ingredientes:

2 embalagens de massa folhada;
1 pimento vermelho;
1 cebola grande;
1 embalagem de cogumelos laminados;
4 latas de atum;
5 ovos cozidos;
polpa de tomate q.b.;

Preparação:

Forra-se uma tarteira grande com uma embalagem de massa folhada, picando o fundo com um garfo e tapar o fundo com a polpa de tomate.

Num recipiente escorre-se o atum e junta-se o pimento e a cebola raspados (no ralador), junta-se os cogumelos salteados em fio de azeite. Colocar o preparado na tarteira e cobrir com os ovos às rodelas, tapa-se o preparado com a outra massa folhada juntando as laterais, pica-se a massa com um garfo e pincela-se com um ovo mexido.

Por fim leva-se ao forno a temperatura moderada!

Sugestão da chef: servir com salada!

 


Espaço de entrevista coordenado por Ana Cláudia Veríssimo