Manias & Significados – Luís Pereira

Um mentiroso compulsivo tem o hábito de acreditar nas suas próprias mentiras.

É o pensamento de muitos jovens Açorianos quando ouviram um destacado dirigente socialista, e membro do governo regional, afirmar que “57% dos jovens, após concluir o seu estágio, têm conseguido emprego”, referindo-se aos programas regionais ESTAGIAR.

Pena que tal estatística não seja sentida, no mundo real, pelos jovens Açorianos.

Exatamente por esta realidade não ser sentida por essas ilhas fora, é que me dediquei a refletir sobre como o governo regional poderá ter chegado a este número, não querendo acreditar que se tratou apenas de um número atirado para o ar com leviandade (atendendo a que veio de quem veio).

Parece-me que a única justificação é a diferença de significados para a palavra “trabalho”, entre o que lhe é atribuído pelo governo regional e o que é atribuído pelos jovens.

Vejamos: o governo regional considera que se um jovem terminar o programa ESTAGIAR e continuar entretido com o programa regional seguinte, isso é trabalho. O governo regional considera que se um jovem terminar um programa e não entrar para o centro de desemprego, isso é porque está a trabalhar. O governo regional acha que se integrar trabalhadores em situação de desemprego, em programas de contratação temporária da administração regional, isso é trabalho.

O problema desta definição é que nada daquilo a que o governo regional chama de trabalho, o é realmente. E o mais interessante é que, em determinada circunstâncias, os programas regionais são trabalho, em outras circunstâncias (como a responder às propostas da JSD) afinal já não é.

Os jovens Açorianos não tem o direito a receber a compensação pecuniária (não seja chama salário porque não é trabalho) em 7 dias úteis porque aquilo não é um contrato de trabalho. Os jovens Açorianos não se podem queixar dos cortes no programa ESTAGIAR U, porque aquilo não é trabalho (no fundo, o governo regional afirma que devíamos estar a dar graças a Deus por ainda existir alguma coisa). Os jovens Açorianos não se podem queixar pela trapalhada no gozo do seu mês de férias, ou nos horários, porque nada do que fazem é trabalho.

Estes jovens são até conhecidos pelo extraordinário termo: estagiário. Os Açores são, portanto, a terra dos eternos estagiários. E continuarão a ser, enquanto o tecido empresarial privado não tiver capacidade de os contratar, por falta de uma dinâmica económica capaz de fazer girar estas nossas nove ilhas.

Mas essa não é a prioridade, porque isso tornaria alguns jovens, e menos jovens, independentes do poder cor-de-rosa. O beija-mão terminaria e isso é uma heresia.


Luís Pereira é vice-presidente da JSD/Açores desde 2015