Co(n)vidados A Regressar Às Salas – Raquel Mendonça

A data 13 de março de 2020 está marcada nas nossas agendas como o último dia de normalidade, antes de se decretar o fecho das escolas, colégios e de outras estruturas semelhantes, inseridas no contexto de ensino.

A consequência desta medida, embora a bem da saúde dos miúdos e graúdos, causou um impacto na curva de aprendizagem, como nunca visto. Os profissionais de educação viram-se confrontados com a realidade e a exigência de se reinventarem, com o objetivo de continuar o sistema de ensino, mas a distância, arranjando soluções para as avarias de equipamentos, sistemas obsoletos e trabalhando horas a fio. As famílias – incluindo neste conjunto os profissionais de educação e de ensino, que também ultrapassaram este período junto dos seus membros familiares, considerando, em muitos casos, filhos ao seu encargo – que  se viram confrontadas a duplicar ou triplicar o equipamento informático e a equilibrar os seus horários para conseguirem conciliar o trabalho que acarreta a sua profissão com o horário escolar dos filhos, bem como as tarefas que se acumulam em casa e, ainda, a lidar e processar todo o avançar da pandemia global.

Volvidos mais de três meses, surge outro desafio para os profissionais de educação: como será executada a abertura faseada nos estabelecimentos de ensino?

Esta pergunta soante fez-se sentir, em primeiro lugar, junto das Creches e Jardins de Infância, que, respetivamente, acolhem crianças entre os 6 meses e os 2 anos e entre os 3 anos e os 5 anos de idade. A par desta pergunta, surge outra inevitável: Como é que uma criança de 2 anos de existência conseguirá compreender e cumprir com regras de distanciamento social, evitar tocar em brinquedos ou não levar a mão ao rosto? Na verdade, a resposta é simples. Não consegue. Não consegue, porque ainda não está munida de capacidade intelectual ou emocional que permita compreender este processo, que surge quase como contranatura perante toda a aprendizagem realizada, até ao momento, sobre estar em sociedade.

Com a abertura destes estabelecimentos, tornou-se imperativo estabelecer e adotar um plano de contingência, com forte incidência em práticas de higiene e desinfeção; frequência em espaços abertos ou, no mínimo, mais amplos e arejados; e apostar no controlo para se evitar o cruzamento ou acumulação de vários e de grandes grupos no mesmo espaço. Trata-se de alterar o nosso comportamento individual e de incentivar que, em grupo, se cumpram as regras de etiqueta respiratória e de higiene que sejam concretizáveis junto das diferentes faixas etárias.

Contrariamente às expectativas dos crescidos, as crianças reagiram positivamente a todas as alterações propostas. É caso para se dizer que a saudade provocada durante os dois meses e meio de confinamento é superior a toda esta parte técnica e burocrática. Verificou-se, desde o primeiro dia de abertura, que as crianças respondem ativamente a todas as ações a que são convidadas a executar, em prol de um investimento para a saúde individual e coletiva. Se há duas áreas que se tornaram de evidente aposta futura são as áreas para a saúde e para a tecnologia. Mesmo em moldes diferentes, face à pandemia, a aprendizagem continuou a acontecer e prepará-los nestes campos é garantir que estão mais aptos a responder a desafios futuros.

 

Raquel Santos Mendonça
Presidente da JSD Terceira
Educadora de Infância
Professora de 1º Ciclo de Educação Básica