Regressar aos Açores em tempo de pandemia – Luís Raposo

Se “ Sair da ilha é a pior maneira de ficar nela” voltar é a compensação de qualquer sentimento saudoso. Costumo dizer que o melhor aeroporto do mundo, para mim, será sempre o de Ponta Delgada. Não só porque significa estar de regresso à minha ilha como, também, estar de volta aos meus familiares e amigos. No entanto, o meu último regresso foi completamente diferente. Estava longe de pensar que um dia iria regressar a casa em tempo de pandemia.

Falar do meu regresso à minha ilha é recuar no tempo até finais de março. Após o encerramento da minha universidade, por questões de saúde pública e por proteção dos meus familiares, optei por permanecer no continente. Entretanto, o GR apresentou novas medidas preventivas que ditaram a obrigatoriedade dos passageiros que chegassem aos Açores ficassem em isolamento profilático numa unidade hoteleira destinada para o efeito. Posto isto, decidi sem grandes demoras, reservar a minha passagem e com todas as precauções deslocar-me à capital do país. Juntamente com amigos, receosos, nervosos e com medo pelo desconhecimento fomos para o aeroporto. Despachámos a bagagem e dirigimo-nos à sala de embarque onde nos foi comunicado que já não era necessário o inquérito. Um silêncio ensurdecedor pairava à entrada do avião. Entre olhares desconfiados e amedrontados, os passageiros sentavam-se tentando manter a devida distância de segurança. Durante o voo um espirro e tosse era motivo de alarme e suspeito.

Regressar a São Miguel, à minha terra natal, foi, pela primeira vez, um desconforto emocional. Tudo estava diferente.

Eu, habituado ao crescimento do turismo, deparei-me com um aeroporto sem vida, frio e vazio. O primeiro contacto foi com os profissionais de saúde que providenciaram a devida informação sobre sinais e sintomas da doença COVID-19 (SARS- CoV2 IgG). Informaram sobre a estadia na unidade hoteleira para a realização da quarentena obrigatória, bem como a referenciação à Autoridade de Saúde Regional do Governo dos Açores que iria entrar em contacto comigo, regularmente. Após a recolha das bagagens e do termino da viagem de autocarro fui até ao hotel. Na chegada, de forma organizada, todos os passageiros foram encaminhados para os seus quartos onde iriam permanecer durante, no mínimo, 14 dias. De realçar a prestação de serviços dos funcionários do hotel. Na verdade, apesar de todas as boas condições e sem nada a apontar, tive a necessidade de manter equilibrada a minha saúde mental, e como? Aulas, treinos online, televisão e computador.

A realização do teste de despiste ao novo Corona Vírus foi feito no 13º dia com espera do resultado nas 24h seguintes – o qual testou negativo.

De volta a casa, com um sentimento de alívio e satisfação por tudo ter corrido pelo melhor.

Luís Raposo
Vice Presidente da JSD Açores
Estudante